especializado em produções musicais
 

Japão desde 1998
Japan since 1998

Em 1998, fui convidado pelo parceiro Marcos Suzano para escrever arranjos de cordas e metais e coproduzir com ele quatro faixas de um cantor japonês que viria ao Brasil para gravar parcerias com Carlinhos Brown, Lenine, Moska e Pedro Luís.

Fiquei impressionado com um vídeo que assisti de uma performance do cantor — até então, não tinha ideia da força e da dimensão do J-Pop.

A partir da demo enviada pelo artista, fomos para o estúdio e terminamos as quatro músicas antes mesmo de sua chegada ao Brasil. Fizemos uma mixagem provisória, que foi aprovada imediatamente por Miyazawa Kazufumi. Ele fez questão de que eu continuasse no estúdio até a finalização do disco. Na última noite, pressionados pelo prazo, ocupamos as três salas do estúdio A.R., na Barra da Tijuca, até o amanhecer. Logo depois, acompanhei o cantor a um shopping próximo ao hotel para ajudá-lo a escolher presentes para a família.

Pouco tempo depois, fomos para uma temporada em um clube de jazz em Tóquio com o Samba Town, quinteto liderado por Suzano. Durante as duas semanas de apresentações, o cantor e sua equipe compareceram várias noites para nos prestigiar.

Na última noite, revelaram o desejo de que Suzano e eu integrássemos a banda que iniciaria a turnê de lançamento do álbum Afrosick — que havíamos gravado no Brasil — ao lado de outro disco gravado na Inglaterra pela banda do Sting, com produção de Hugh Padgham.

Ficamos surpresos e felizes, mas já tínhamos um compromisso com a trilha sonora de um seriado de TV no Brasil, exatamente no mesmo período. Voltamos para o Brasil e, certo dia, durante a gravação da trilha, um emissário japonês apareceu no estúdio com uma pasta cheia de partituras e alguns CDs. Ele dizia ter sido enviado por Miyazawa, que queria muito que fizéssemos a turnê e estava disposto a negociar com o produtor do seriado.

Parecia cena de filme, mas conseguimos um acordo com o diretor: faríamos o primeiro dos três episódios, enviaríamos a trilha do segundo diretamente do Japão e retornaríamos a tempo de compor a do terceiro.

Viajamos por quase dois meses pelo Japão e tivemos o privilégio de conhecer aquela cultura maravilhosa pelas mãos de nossos próprios colegas de banda, que nos apresentaram o melhor do país — sua beleza, gastronomia e contrastes.

Entre 1998 e 2008, percorri o mundo por meio dessa parceria. Gravamos vários discos de Miyazawa, participei de álbuns de outros artistas com meus arranjos e desenvolvi trabalhos autorais. Com ele, fiz duas parcerias das quais me orgulho muito: Samba Caos, que deu nome a uma turnê do grupo em 2006, e Primeira Saudade, composta tempos depois, por ocasião do nascimento da minha filha, Maria Fernanda. Em 2017, tive que deixá-la, ainda com quatro meses de idade, para mais uma excursão ao Japão, desta vez com o grupo Ganga Zumba.

Em novembro de 2018, lancei o álbum Festa com Orquestra e fiz shows em Tóquio e Osaka, acompanhado por músicos locais de altíssimo nível. Mais do que isso, tive a oportunidade de conhecer um pouco da alma japonesa — nem sempre bem compreendida no Ocidente —, marcada por firmeza de palavra e sinceridade com os amigos de verdade.

Uma ovação de quase quinze minutos ao fim de um show e o carinho com aquele pai tardio, que voltou para casa com as malas cheias de presentes, ficarão para sempre gravados em minha memória.