Fernando Moura
Carioca de Copacabana, Fernando começou no piano aos 4 anos de idade por recomendação das professoras da escola primária que assistiram espantadas ao menino que na segunda semana de aula se colocou à frente dos colegas na aula de música e os comandava nas canções recém aprendidas mexendo os braços qual um regente em miniatura.
No Conservatório Brasileiro de Música, onde estudou piano até os 17 anos, frustrou as expectativas dos que o viam como um futuro pianista de concerto, pois começou a se interessar por composição e a misturar harmonias de Prelúdios de Chopin com melodias que a imaginação adolescente sugeria.
Foi estudar com Guilherme Vaz, importante compositor de música para cinema no Brasil, sem desconfiar o quanto a música para audiovisual seria importante em sua carreira. Pouco a pouco abria seu caminho como músico na MPB enquanto recebia os primeiros convites para compor música original para espetáculos de teatro, curta metragens e, a partir do início dos anos 80, também para publicidade em TV e rádio.
Durante os anos 80 e 90 trabalhou em shows e gravações com artistas brasileiros como: Ednardo, Amelinha, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Marisa Monte e Elba Ramalho ao mesmo tempo em que produzia e lançava discos autorais, e participava de shows e festivais de música instrumental ao lado de nomes como Paulo Moura e Armandinho Macedo.
Em 1986 gravou com o inglês Steve Hackett (Genesis) no disco Till we have faces. Em 1993 acompanhou por 4 noites Chuck Berry trazido ao Brasil pelo Free Jazz Festival, e foi o pianista e tecladista das apresentações de George Martin no Projeto Aquarius no Rio de Janeiro com a Orquestra Sinfônica Brasileira, em programa dedicado aos arranjos do maestro e produtor para os Beatles.
Através do contato com George Martin, conseguiu uma indicação para estudar música para cinema, TV e multimídia na Grã-Bretanha entre 1995 e 1997, e aprimorou seus conhecimentos nessa área onde já vinha trabalhando há algum tempo. Sua primeira trilha sonora original para longa metragem é de 1987 para o filme Que bom te ver viva de Lucia Murat, com quem voltaria a se encontrar em Maré, nossa história de amor, em 2007, trabalho, em parceria com Marcos Suzano, com o qual ganhou o Prêmio Coral do Festival de Havana de melhor trilha sonora.
A parceria musical com Marcos Suzano se desenvolveu muito e trouxe a Fernando, a possibilidade de arranjar e produzir com ele, em 1998, o disco Afrosick, de Miyazawa Kazufumi, que contou com as participações de Lenine, Carlinhos Brown, Pedro Luís e Moska, marcando o início de uma relação muito rica com o mundo musical japonês.
Tocando com Miyazawa, Fernando percorreu o Japão várias vezes e foi apresentado ao seu fascinante mundo e sua cultura, além de shows internacionais em lugares tão distintos como Moscou, Honduras, Nicarágua, Paris, Londres e Przemysl, fronteira da Polônia com a Ucrânia onde, inesperadamente, conheceu a terra de seus avós maternos.
Mais de 20 anos de música no Japão, trouxeram discos e shows com artistas da cena local entre os quais a banda Ganga Zumba, o CD instrumental Uma Lua, com a violinista Reiko Tschuiya, e parcerias com Miyazawa nas canções Samba Caos e Primeira Saudade que fala do sentimento do pai músico que tem que viajar, canção dedicada à sua filha Maria Fernanda, então recém-nascida quando a música foi composta.
Ainda no Japão, Fernando lançou em Tokyo e Osaka, em novembro de 2019, o disco Festa com Orquestra, no qual apresenta os pilares de sua vida musical: trilhas sonoras originais recriadas para orquestra, temas instrumentais e arranjos para clássicos da MPB entre os quais Avohay, de Zé Ramalho – que o fez se iniciar nos teclados quase 40 anos antes –, dessa vez na voz do talentoso Chico Brown.
Durante muitos anos escreveu a coluna mensal Músico na Real, na revista Música & Tecnologia, de Sólon do Valle, que influenciou gerações de músicos e técnicos de som por seus posicionamentos realistas e bem-humorados na área da produção musical.
Em 2017, lançou por essa editora o livro Trilhas Sonoras: entre o mundo encantado e a vida real. Único no assunto em língua portuguesa, o livro aborda a relação da criação e produção da música para audiovisual pela perspectiva de quem trabalha com isso diariamente, e não tem apenas uma visão romântica ou idealizada de como é esse lado da composição profissional.
Autor de música original para mais de 30 filmes, inúmeras séries de TV e multimídia, espetáculos de teatro, dança, instalações e vídeos de artes plásticas, institucionais, publicidade em diversos formatos, sound branding para radio e TV, até a chegada de Papai Noel no Maracanã um leilão de cavalos no Canecão… é difícil imaginar alguma utilização que Fernando não tenha trabalhado pelo menos uma vez desde o final dos anos 70.
Sua “orquestra” é variada: começa no piano, combina sons acústicos, elétricos, eletrônicos ou processados que habitam o universo sonoro de sua imaginação e lhe oferece escolhas para levar suas ideias musicais ao mundo. Começando com o disco cult de vinil Passeio Noturno (1985), álbuns de álbuns de instrumentação variada, como piano e duos com o percussionista Ary Dias e o baterista Rui Motta, discos de piano solo e só com teclados, formações orquestrais, quintetos, trios e, por exemplo, Cidades Sonoras e Besouros 1 e 2 (revisitando as canções dos Beatles), em dupla com o sopro de Carlos Malta, a música de Fernando é sempre diferenciada e bem considerada pela cena musical brasileira.
Durante a pandemia, aprofundou-se ainda mais na linguagem de estúdio e alcançou a impressionante marca de 18 novos lançamentos autorais nas plataformas digitais entre álbuns, singles e EPs, num total de mais de 100 faixas produzidas em seu TudoPiano Estúdios no Rio de Janeiro.
De lá também criou, produziu e gravou trilhas sonoras para diversos audiovisuais destacando o longa de Ana Magalhães, Mangueira em 2 tempos, ganhador do Prêmio de Melhor Documentário no Festival de New York, de 2020.
Músico de trabalho apaixonado, que vê a disciplina como uma vantagem e não uma limitação, Fernando segue sempre encarando cada dia como uma possibilidade de chegar a um novo território musical ou surpreender um novo ouvinte mundo afora.