especializado em produções musicais
 

37-Lampejos com Victor Huggo

 

 

 

Ao contrário do que a presença do teclado pode sugerir, piano e sanfona são instrumentos bem diferentes e complementares de muitas formas. 

No piano é difícil fazer as notas crescerem ou descrescerem em volume como num instrumento de sopro. Sua duração também é limitada mesmo com o uso do pedal, ao contrário da sanfona, onde o fole dá uma possibilidade de sustentação mais próxima do órgão e possibilidades rítmicas bem familiares na música brasileira, seja nos baiões e xotes do Nordeste ou nas milongas gaúchas.

Os baixos da sanfona sempre foram um mistério para mim como pianista, apesar de ter tido o privilégio de tocar com grandes do instrumento como Dominguinhos, Oswaldinho, Chiquinho de Acordeon, Severo e Zé Américo. Todos eles me diziam: "... é fácil, só praticar os desenhos".  Ainda bem que não acreditei porque certamente é uma especialidade complexa, assim como tocar na vertical e sem olhar para o teclado.

Como "primos distantes", piano e sanfona se combinam muito bem e talvez a primeira vez que percebi isso, sem ser na música brasileira, foi em Piazzola onde a interação entre os dois instrumentos era genial, cada um no seu espaço.

Conheci Victor Huggo, que se apresentou como "leitor assíduo" de minhas crônicas mensais na Revista Áudio Música e Tecnologia de Sólon do Valle, no lançamento de meu livro de trilhas sonoras em 2017, e fiquei muito impressionado com seu desembaraço e clareza de ideias.

Tempos depois, ele me convidou para uma entrevista em sua série de YouTube "O Som da Cena" e, ao encerrar a entrevista, levamos um som em teclados e piano que acendeu aquele sinal de que poderíamos ir mais longe na parceria.

Durante a pandemia tentamos uma parceria virtual, mas ela só veio a se concretizar em 2024 com o lançamento do single Forrodes, um tema instrumental onde a sanfona de Victor divide a cena com Rhodes, Clavinete e dialoga comigo em solos ligeiros com o Mini Moog.

Paulo Moura dizia que "cada músico tem que trazer alguma coisa sua para a festa", do contrário, "não acontece nada" e logo percebi Victor Huggo como um músico criativo que prefere arriscar com personalidade e energia do que apresentar o esperado com competência.

LAMPEJOS traz uma série de 15 imagens sonoras fundamentado na estética de trilhas sonoras, da qual somos adeptos e praticantes profissionais. Cada faixa é uma possibilidade, uma crônica rápida, uma ideia que pode ir mais longe se for necessário, mas funciona como criação a partir de um impulso de sentimentos.

Muito mais que temas estruturados com solos, introduções e orquestrações detalhadas, LAMPEJOS é um album de criação musical: a partir de uma ideia básica inspirada por um sentimento (Alegria, Saudade, Decisão, Angústia) piano, teclados e sanfona conversam como amigos que sabem se ouvir e aproveitar o que o outro tem de melhor aproveitando as diferenças de formação e geração.

Único no gênero (até os esquadrões da inteligência artificial nos acharem, é claro) LAMPEJOS é um álbum de ideias e momentos construído por dois instrumentistas e compositores de trilas sonoras em momentos de descontração e sem a pressão das entregas, aprovações e outros "demônios diários" do mundo do audiovisual.

 

 

Ficha Técnica:
Música de Fernando Moura e Victor Huggo
Intérpretes: Fernando Moura e Victor Huggo
Produtor Fonográfico: Fernando Moura
Fernando Moura: piano e teclados
Victor Hugo: sanfona

Produzido, gravado, mixado e masterizado em TudoPiano Estúdios RJ por Fernando Moura
Ilustração: Cunca Bocayuva
Capa e produção executiva: Claudia Rozental