33-Piano Romance
A ligação do piano com o romantismo vem desde a música erudita, passando pelos standarts de jazz e pelas músicas populares de todo o mundo. Expressar o amor através desse instrumento capaz de fornecer melodia e acompanhamento simultaneamente atravessa épocas e culturas.
Essa música, no entanto, muitas vezes tem que superar preconceitos por apresentar um universo onde talvez a erudição ou sofisticação não sejam o melhor caminho para a comunicação com o público.
Sentimento não é uma questão de inteligência ou de nível de instrução, depende mais de intuição e sinceridade. Na música, uma melodia simples em tom maior, pode chegar mais rápido à sensibilidade do ouvinte do que a frase musical trabalhada nota a nota com técnicas refinadas.
Por outro lado, não se deve menosprezar o ouvinte dizendo que “quanto mais simples, melhor” porque independentemente de estilo ou gênero, o que liga o ouvinte à música vai muito além de teorias.
Em Piano Romance, a intenção foi fazer um disco de músicas românticas inspiradas pelo sonho, pelo romance que traz vibração e energia mas também ternura e reflexão. Tentei evitar o melancólico, o obsessivo sofredor que mostra o amor por um lado triste, não correspondido.
Cada música começou com uma improvisação direcionada a esse perfil de clima romântico e que ficou guardada. Tempos depois voltei a cada uma delas esculpindo aquelas “matérias primas” registradas de diversas formas: gravações em celular, teclados midi, anotações em guardanapos e até um post de Instagram tocando o pequeno Toy Piano vermelho de minha filha.
Diferente de outros discos de piano solo que fiz, não escrevi na pauta, nem no midi. O que ouvimos no disco veio mais através de work in progress do que por rígida estruturação prévia, afinal não é possível ser verdadeiramente romântico sem surpresas...
Também não usei multi pistas com sons diferentes e complementares como em meu disco TudoPiano de 2008, onde todos os sons são produzidos por partes diferentes de um piano: teclado, cordas, cepo, etc.
A realização das faixas seguiu o conceito de “cascade recording” que aprendi na década de 80 gravando faixas de piano solo para meu primeiro disco Passeio Noturno, no Record Plant de New York com Tom Swift, em 1985: Aproveitar o trecho que está bom e continuar daí em diante até ficar satisfeito.
Apesar de meus protestos pela autenticidade, ele me jurou que não só discos de música erudita eram gravados assim, mas que ele pessoalmente tinha editado o Biches Brew do Miles dessa forma (!)
O setup de gravação também seguiu a linha de facilitar o processo: um par de microfones Neuman KM 184 posicionados de uma maneira que uso há anos no piano Steinway & Sons modelo A com a tampa entreaberta conectado a uma interface Apogee Mini Me.
Em uma das faixas, uso um Rhodes 73 Mark One ligado a um simulador de amp de guitarra e saindo estéreo para a mesma interface.
Na mix pouco ou nenhum reverber Lexicon PCM 81, equalização muito leve e só em alguns momentos e a saturação leve da Apogee registrada já na gravação.
Papel fundamental na qualidade sonora do trabalho: a masterização feita pelo mestre Fabio Henriques que tem o dom de se colocar sempre na posição de trazer a música ao mundo respeitando as ideias dos músicos e sempre pensando em quem (e onde) irá ouvir.
Por fim e não menos importante: a capa de Claudia Rozental que fica longe dos buquês de rosas vermelhas, taças de champanhe entrelaçadas e clichês de romances de quartos de motel dos anos 90.
Piano Romance não tem intenções revolucionárias, mas procura o que é importante ao se falar de amor: sinceridade nas intenções, intensidade nas ações.
Com certeza, um disco para ouvir bem acompanhado e com as melhores intenções.