especializado em produções musicais
 

3-Do bom e do melhor

 
 

 

 

 

 

 

 

Do bom e do melhor (2002)

Lançado pela Rob Digital em 2003

https://open.spotify.com/album/6M35IiRGNZlDQdEEqNvwS6

 

Entre 1995 e 1997 morei em Edinburgo onde fiz o curso de Music for Cinema, TV and Multimídia do College local depois de ter pedido uma indicação a George Martin com quem tive o prazer e a honra de trabalhar em 1993 nos shows capitaneados pelo Projeto Aquarius sobre a música dos Beatles com participação da Orquestra Sinfônica Brasileira, Coral dos Canarinhos de Petrópolis e de uma banda (Giles Martin e Robertinho de Recife nas guitarras, Jamil Joanes no baixo, Carlos Bala na bateria e eu no piano e teclados na ingrata posição de reproduzir o que o maestro inglês tinha tocado pessoalmente em seus arranjos de músicas dos Beatles. 

Havia exceções como as partes de piano de The Long and Widing Road e Hey Jude tocadas pelo Paul Mc Cartney que embora menos desafiadoras tecnicamente tinham que ser tocadas exatamente como a gravação, mas isso é assunto para outra hora…

O que importa é que nessa época a tecnologia musical estava mudando brutalmente, a gravação em hard disk vinha chegando com força, abrindo espaço entre o sequencer analógico que conheci de perto em 1984 nas gravações de “Till we have faces” do Steve Hackett no Rio de Janeiro e os ADATs e multi pistas digitais que eram nitidamente momentos de transição.

Na Grã Bretanha dos anos 90, essa tecnologia possibilitou o desenvolvimento de gêneros musicais como drum and bass, house, jungle e big beat que persistem até hoje tendo sido absorvidos em graus diferentes pelo main stream do pop.

Saí do Brasil com muita experiencia de programação num computador Atari ST e aterrisei no College britânico que era um centro de treinamento de Cubase, software que passei a usar desde então e para o qual tive o prazer de compor os exemplos do tutorial da versão 3.02 em 1996. A primeira versão VST que gravava audio!

Passei esses dois anos na Escócia tocando menos que gostaria, mas adquirindo um conhecimento técnico, orientado por bons professores, em especial Paul Ferguson, reacendeu em mim o desejo de tocar e juntar as linguagens ao vivo e programadas, num momento em que a música brasileira puxada pelo ritmo se afirmava mundialmente.

Assim foi se formando a idéia de “Do bom e do melhor” onde me afastei do quinteto jazz fusion para uma formação que juntava um naipe de sopros com 2 saxes/flautas, trumpete e trombone, 3 percussões, tendo à frente Marcos Suzano, o baixo elétrico de Jamil Joanes e meu piano/teclados.

O Brasil começava a ficar na moda e o Rio de Janeiro estava mandando no groove…

O disco foi gravado ao longo de 3 anos entre 1999 e 2001. Começou a ser gravado em fita analógica por teimosia e idealismo. Ao longo do processo tive que capitular em favor do digital por sua mobilidade e pela incrível velocidade como se desarticularam as opções analógicas.

Gravei uma versão de “Jardim das Delícias” em duo com Suzano num final de fita analógica ao chegarmos de uma temporada no Japão com seu grupo Sambatown tendo que escolher um andamento para a fita não acabar e sair da máquina (!)

A romântica “Alegria do Amor”, composta originalmente para o seriado “Pure Soul”da Fuji Tv japonesa é apresentada aqui em versão piano solo, uma vez que o diretor ao chegar ao Brasil para ouvir as demos pediu com educação e constrangimento que me levaram a pensar que iria praticar um sepuku ritualístico na minha frente, para eu não usar piano em nenhuma das músicas que havia composto para a série (!) Só cordas e sopros porque ele queria “um clima do cinema brasileiro dos anos 60”.

Em “Saudades de Bangu”, estava tão ansioso em ouvir meu arranjo de cordas que tive que bronca do saudoso spalla Giancarlo Pareschi para eu deixar eles ensaiarem melhor antes de gravarem ou ir “dar uma voltinha enquanto estamos passando o arranjo para o seu disco”. Frisado com aquele sotaque que todos os estrangeiros carregam independentemente do tempo que estão no Brasil.

Gravava uma música por sessão de 8 horas começando com o piano acústico ou com os teclados que tivesse preparado no meu home estúdio e aí iam chegando os músicos convidados tentando seguir a clássica ordem de base, complementos e solistas.

Na faixa “King’s Cross”, o genial saxofonista Juarez Araújo não chegava, o relógio corria para meu desespero e ansiedade dos outros músicos do naipe e num mundo sem celular, só soubemos que ele havia se perdido quando ligou de um orelhao a duas esquinas do A.R Estúdios. Resgatado no local, gravou o solo de tenor no mesmo take do naipe e ainda fez outro solo maravilhoso na dobra do naipe, que foi para o disco. Pelo adiantado da hora, Jamil têve 20 minutos para gravar o baixo da faixa, mas já estava com tudo na cabeça acompanhando a gravação do naipe enquanto decifrava minhas harmonias escritas à mão com aquela caligrafia de quem tem pressa em não perder idéias.

Aprendi a tocar “Aquarela do Brasil” com Armandinho Macedo numa passagem de som para um festival de jazz em Nyon na Suíça em 1986. A organização do festival pediu em cima da hora para a música ser incluída e alguém precisava fazer (alguma) harmonia para ele fazer a melodia com todos os ornamentos que seu virtuosismo inspira. Tocamos com grande sucesso aquela versão criada no soundcheck, ela se incorporou ao nosso repertório sempre com novas idéias e quando decidi gravá-la, claro que o solista só poderia ser ele mesmo. Ainda na gravação dessa música, deixei um das segundas partes, abertas para alguém do naipe de metais gravar a melodia com uma interpretação pessoal e ao vivo. Vendo que o músico combinado para fazer o solo não ia entrar, o trombonista Roberto Marques se levantou ao melhor estilo gafieira e cravou com aquele seu somzaço e swing a melodia do “B” da música.

O disco ainda apresenta dois outros clássicos da música brasileira: “Chovendo na Roseira” de Tom Jobim que gravei em duo com o artista Miyazawa Kazufumi com quem já trabalhava desde 1998 a partir das gravações de Afrosick, seu disco gravado no Brasil com parcerias e participações de Lenine, Carlinhos Brown, Pedro Luís e Moska produzido e arranjado por mim em dupla com Marcos Suzano. Entrei nesse trabalho para fazer 3 arranjos convidado pelo Suzano diante da desistencia do produtor que havia sido contatado previamente para fazer o trabalho, fiquei até o final das mixagens e continuamos parceiros até hoje em músicas e shows ao vivo.

O arranjo para “Oração ao Tempo” de Caetano Veloso, havia sido criado para a montagem teatral de “Mais uma vez amor” de Rosane Svartman a convite do diretor Ernesto Piccolo. Era música que conduzia as passagens de tempo da peça e havia esse arranjo para o final já feito tendo o Armandinho como solista e com a permissão dos produtores, reeditei a forma do arranjo com a inclusão de sopros e de um quarteto de cordas e ele foi incluída no disco.

“Paulo” foi a última música a ser gravada com a participação especial de Paulo Moura no clarinete, Luiz Alves no baixo acústico e Paulinho Black na bateria. A composição foi tomando forma a partir de uma pesquisa a grooves relativamente obscuros de bossa nova e samba jazz dos anos 60 durante o período que toquei com o quinteto de Paulo Moura, montado por ele para revisitar seu repertório dessa época que tinha ao piano o lendário Tenório Jr. Alguns breaks da composição são inspirados em riffs dessa onda e o ostinato de baixo é inspirado numa gravação do Tamba Trio talvez de “Só danço samba”.

Completam o disco a faixa “Batam”, em parceria com o produtor Nilo Romero, que segue a mesma idéia geral do trabalho de brasilidade, ritmo acústico aliado ao programado e processado e naipe de metais e “Lapa Tonight” em parceria com Jovi Joviniano que investiga as possibilidades de encaixe entre o swing do samba carioca e o bumbo reto de house que se disseminava na Inglaterra e avançava para os EUA.

“Do bom e do melhor” foi mixado por Tom Swift em seu estúdio em New York, masterizado por xxxxx e lançado pela Rob Digital em 2002.

Imagem da Galeria Capa Do Bom e do Melhor
Imagem da Galeria Contracapa Do Bom e do Melhor