19-Festa com Orquestra
Festa com Orquestra
Mais uma vez Fernando Moura nos surpreende com este seu novo trabalho. Nele há festa, orquestra, floresta, urbanidade e, sobretudo, música de excelente qualidade.
Fernando Moura sabe, como poucos, fazer uso do exercício democrático do “tocar junto”, sem protagonismos ou estrelismos, valorizando sempre seus parceiros, atribuindo-lhes os devidos créditos, e por isto há a FESTA que, como ninguém, ele sabe orquestrar.
O músico Fernando Moura alicerça sua vida profissional em quatro pilares. O primeiro deles, a criação de trilhas sonoras para a televisão e o cinema, o segundo, seu como instrumentista dos teclados, seja no piano, ou em décadas de teclados eletroeletrônicos. A terceira vertente é a de arranjador, atividade que Fernando desempenha com os mais diversos representantes de diferentes segmentos da MPB. E, finalmente, pode-se destacar sua longa (desde 1998) e fértil relação com músicos japoneses.
A música de abertura, é AMOR E VONTADE, e foi encomendada por Clarissa Ramalho, para seu filme de estreia “Natureza Morta”. A composição foi coreografada pelo internacionalmente renomado Rodrigo Pederneiras, do Grupo Corpo.
As quatro composições, que se seguem, foram compostas também para o cinema. São recriações de temas compostos originalmente para o filme MAMIRAUÁ dirigido por Sílvio Da-Rin. O tema de abertura é AMAZÔNIA LIVRE: CHEGADA. Como nos sugere Fernando, “um voo sobre a floresta de nossos pensamentos”. O terceiro track é AMAZÔNIA LIVRE: CAMINHOS, parece fazer renascer sonoridades silenciadas na memória como um “passeio pelos motivos simples que temos guardados desde a infância”. Segue-se AMAZÔNIA LIVRE: FLORESTA DANÇA, música que busca expressar os mistérios da rica e livre imaginação infantil quando diante da pujança da grande mata. Na quinta música (AMAZÔNIA LIVRE: ESPERANÇA), Fernando estabelece linha direta de inspiração com o grande maestro e compositor brasileiro Villa Lobos e o convida a visitar, musicalmente, o lago Mamirauá, que dá nome a reserva. O sexto track (AMAZÔNIA LIVRE: FUTURO) celebra a natureza ao nos remeter à paisagem musical de uma banda que toca no coreto da cidade do interior de nossa imaginação.
A partir da sétima composição, CIDADE LOTEADA: EXPECTATIVA, percebe-se que as sugestões musicais nascem do universo urbano, estímulos a um mergulho interior para aprendermos a esperar “aquele sinal que não abre, aquele e-mail sem resposta”.
CIDADE LOTEADA: INTERIORES, o oitavo track tem a participação de Steve Hackett, com quem Fernando gravou no Rio de Janeiro em 1986. Nas palavras do compositor: “caminhos que se multiplicam a nos surpreendem”.
No nono track, CIDADE LOTEADA: PERSEGUIÇÃO E REQUIEM, camadas orquestrais se sobrepõem com cordas, metais, e as guitarras de Davi Moraes, se harmonizando em planos distintos. Essas 3 músicas compostas para o filme OLYMPIA de Rodrigo Mac Niven foram rearranjadas especialmente para o disco.
AVOHAY de Zé Ramalho, é a única música cantada por Chico Brown, que imprime um caráter de universalização às sonoridades originalmente nordestinas da canção. Fernando revela que esta foi a música que o “levou do piano aos teclados”.
CLAUSURA guarda mistérios oníricos em suas sonoridades. Destaque para o trompete do australiano Mike Ryan. É como uma “busca incessante da trilha sonora dos sonhos”.
PROCURANDO UM DESTINO segue a oferecer a paisagem onírica da composição anterior e a percepção de “cidades distantes de nossas lembranças”. Essa música e a anterior foram compostas originalmente para o longa Desterro, road movie de Sandro Langer e Carolina D`Ávila.
A MANGA ROSA, de autoria de Ednardo, é uma leitura completamente inesperada da composição. Oferece ao ouvinte um inusitado pop carregado de brasilidade, ao reunir três bambas da nossa música: Fernando Moura, no piano acústico, Armandinho Macedo, na guitarra baiana e Marcos Suzano, no pandeiro.
ESTOPIM, recriada a partir de um tema composto para o longa homônimo de Rodrigo Mac Niven, mais uma vez, torna obrigatório o termo “inusitado”. A voz de Miyazava Kazufumi, usada como instrumento, se incorpora aos sons do ehru, instrumento oriental de arco sobre 3 cordas, à percussão de Kenji Imafuku e ao piano acústico de Fernando Moura tocado nas cordas e harpa, fazendo com que “uma morte na favela da Rocinha sirva de inspiração para rituais japoneses”.
PEGA LADRÃO se revela como gênero da MPB, um samba meio pernada de capoeira onde se destacam as participações de Carlos Malta e João Callado e o arranjo de percussão de Mestre Wesley da Mangueira.
GOIABA EM CALDA é mais uma das composições de Fernando Moura cujo título já induz à audição. Aqui, a orquestra dos bailões se mostra poderosa e pede a dança de rosto colado. Destaque para o trombone de François de Lima e para os naipes de saxofones e cordas.
HARMONIA E PAZ, composto originalmente para o longa MISSÃO 115 de Silvio Da-Rin, aqui em duo de piano e órgão Hammond tocado por Mú Carvalho. É uma canção celestial porque traduz em som um estado de espírito: “o desejo fundamental do músico”.