Composição e execução. Criação e performance. Inspiração e transpiração.
A interação entre essas forças é decisiva para levar a música do imaginário dos músicos aos corações e mentes dos ouvintes mundo afora.
Se o sonho de todo compositor ou arranjador é ter suas obras interpretadas por solistas sensíveis, o grande intérprete, sempre estará à procura de desafios que ampliem os limites de sua performance.
O primeiro contato profissional da dupla é dos anos 90, quando Malta foi convocado para gravar a parte de flautim no arranjo encomendado a Fernando para “O Globo no Ar”, noticiário radiofônico, espécie de “hino dos taxistas cariocas”, dessa época pré Internet.
Ao se lembrar que no rádio, o som agudo teria uma importância enorme para assinar a vinheta, na véspera da gravação com orquestra, o músico foi convocado para tocar as 4 notas finais da música. Não fez por menos e com toda a sua categoria de improvisador, foi lá e resolveu a questão no primeiro take.
Pouco tempo depois, uma tournée pela Holanda com Sambatown, o grupo de Marcos Suzano (não por acaso convidado de “Mundo Novo” que encerra o disco) na época, colocou a dupla dividindo quartos de hotéis e como complemento a visitas aos cafés locais, cardápios musicais que se renovavam em degustações de Claus Ogerman, Bill Evans, Miles, Stravinsky, Luiz Eça e tantos outros.
Corria o ano de 1997 e desde lá, as gravações continuaram em trilhas sonoras para novelas japonesas, longas metragens premiados e series de tv, e daí para discos e shows em duo.
As releituras de músicas dos Beatles (Besouros vols. 1 e 2 pela Deck Disc) no palco serviam como pretexto para uma festa criativa, proporcionada pela variedade de instrumentos de sopro que Malta domina e se multiplica em diferentes personas musicais e pela experiencia de Fernando em teclados que começaram aos 5 anos de idade no piano acústico e desde os anos 70 descobre novas sonoridades em diferentes tecnologias do Mini Moog e órgão Hammond ao iPad e instrumentos virtuais.
Cidades Sonoras, lançamento digital do duo, coloca todos esses elementos num caldeirão, tempera, cozinha, refina e serve ao ouvinte um banquete sonoro em 16 “pratos” pronto para ser degustado pelos espíritos atentos e sensíveis que querem ouvir e viajar pela música além de categorias pré-concebidas.
Naipes de flautas e saxes cuidadosamente escritos nota por nota por Fernando e executados com precisão e espírito por Malta em duo com o piano (Cidades e os Mortos) se alternam a improvisos exuberantes sobre percussões de piano preparado (Cidades Preparadas) e texturas eletrônicas em diálogos improvisados de clarone e Moog (Cidades e Baleias).
Timbres inesperados desfilam pelos arranjos como em Cidade do Oriente, duo de bansuri e piano elétrico Fender Rhodes gravado em take único. O grito urbano do sax soprano emoldurado pelo órgão Hammond em Cidades e Bitches, a psicodelia do Theremin preparando a cena para o sax barítono de cores nordestinas em Cidades e os Olhos… o banquete sonoro surpreende e cativa.
Livremente inspirada tanto nas “Cidades Invisíveis”, como nas “1001 noites”, Cidades Sonoras nos leva a cenários que os tempos recentes nos impediram de visitar, mas não de sonhar e desejar.
Escolha seu lugar e boa viagem!
Rio, primavera de 2022.
Ficha Técnica
Carlos Malta: flautas, saxofones, clarone.
Fernando Moura: piano e teclados.
Marcos Suzano: pandeiro em “Mundo Novo”.
Gravado e mixado em TudoPiano Estúdios, Rio de Janeiro por Fernando Moura.
Masterizado por Fabio Henriques.
Fotos: Daniele Yunes.
Produção executiva: Claudia Rozental.
Produzido e realizado por Carlos Malta e Fernando Moura em 2021/2022.