Uma Lua - com Reiko Tschuiya (2007)
Minha primeira lembrança a respeito da violinista japonesa Reiko Tsuchiya é bem peculiar...
Corria o ano de 2003 e meu parceiro Miyazawa Kazufumi mandou email convidando para alguns shows em Buenos Aires e São Paulo. No repertório, havia um arranjo de tango para uma música dele escrito por um pianista argentino com todas os truques do gênero incluídos. Recebi também o MP3 do ensaio com um som de violino que até então não fazia parte da banda e ao começar a estudar o arranjo, sugeri alguma dobra de melodia de piano e violino que não estava especificada no arranjo e obtive como resposta “...I will ask Reiko, the new violin player in my band”.
Ao chegar para o primeiro ensaio em Buenos Aires, qual não foi minha surpresa quando vi que Reiko não era homem, como havia pensado pelo nome terminado em “o” e sim uma instrumentista ótima que além do violino, tocava um instrumento de 3 cordas da tradição sino japonesa chamado Niko (no Japão) e mais conhecido no mundo da música como Ehru (nome chinês) que tem uma sonoridade surpreendentemente próxima à da voz humana.
Em 2005 voltamos a nos encontrar dessa vez para uma longa excursão pela Europa e na Polonia, devido a alguma confusão entre os motoristas de taxi contratados pela produção para nos levarem do hotel ao teatro para ensaio e passagem de som, ficamos Reiko, o percussionista Imafuku Kenji e eu esperando um bom tempo os outros taxis acharem o caminho para chegarem ao teatro.
Como o som já estava pronto quando chegamos, começamos a tocar de improviso e assim se fêz a música “Cherry Blossom”, um 6/8 baseado num ostinato de mão esquerda que inventei ali na hora e sobre a qual, Reiko foi construindo uma melodia simples e que com a sonoridade do Ehru tinha um sabor todo especial.
Consegui ali na hora mesmo, rascunhar uma segunda parte, gravamos num gravador daqueles portáteis de entrevista e ao longo da excursão dei forma final à música e a mais dois ou três temas que deixei com ela para ela ouvir e pensar sobre o convite que eu estava fazendo para gravarmos um CD a partir dali.
Entre 2005 e 2008, estava indo muito ao Japão, 3 vezes por ano e ficava um bom tempo para a temporada de festivais de verão ou para gravar discos com Miyazawa que tendo mudado de gravadora havia decidido fazer da banda que o acompanhava o conjunto Ganga Zumba.
Nos intervalos dos compromissos com a banda, me dedicava a várias outras atividades musicais no Japão e acreditando na boa fase da música brasileira, consegui gravar esse disco com Reiko e participação de músicos japoneses e brasileiros em sessões que variavam entre a casa dela, onde gravava os violinos, sobras de horas de estúdio no Japão, estúdios particulares no Brasil ou em Tokyo como o de demos da gravadora Rhythmedia japonesa, que nos ajudaram a realizar esse trabalho.
Participam como convidados os brasileiros Marcos Suzano, Bernardo Aguiar, a percussão de A Parede com C.A, Celso Alvim e Sidon Santos, Carlos Negreiros, Bernardo Aguiar e Jovi Joviniano. No Japão gravaram: Miyazawa Kazufumi (voz), Takano Hiroshi (guitarra), Miyagawa (percussão), Imafuku Kenji à frente de seu grupo de percussão em arranjo especial para Oceans.
O CD foi lançado com grande sucesso durante a tournée Samba Caos do grupo Ganga Zumba e apresentados por Miyazawa, tocávamos no show o frevo Cangurus em Recife de minha autoria que abre o disco e agradava muito ao público japonês, apesar de seus compassos compostos e sua estrutura inesperada.
Outras faixas do disco incluem mais composições minhas de caráter rítmico acentuado e as baladas Hyang Ju de Miyazawa cantada por ele com intervenções de Ehru e groove de moringa de Marcos Suzano e também Kibou com a participação de uma guitarra ambiente de Takano Hiroshi criando um cenário emocional com o violno de Reiko e o piano acústico.