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4-Eletro Pixinguinha XXI com Henrique e Beto Cazes

 

Eletro Pixinguinha XXI com Henrique Cazes e Beto Cazes

Entre as mudanças mais marcantes que a tecnologia trouxe para a música, o áudio digital teve papel fundamental desde a composição até a maneira como as pessoas ouvem música em suas vidas no século XXI.

O sampler como instrumento e fonte de inspiração sonora saiu do universo encantado dos Synclaviers e Fairlights de dezenas de milhares de dólares  e chegou aos tecladistas do mundo real encarnado no Ensoniq Mirage, um sampler de 8 bit com memória de 128 kb, ou seja um floppy disk de 3,5 polegadas daquela caixinha que vinha com 10 unidades e guardava até 6 samples e 8 sequencias com polifonia de 8 vozes.

Embora tenha tido alguns momentos de glória em estúdios de gravação dos anos 80 porque era uma opção ao som de piano dos Yamaha CP 70 e 80, não me interessou porque era um sistema operacional difícil de lidar e como já estava quebrando a cabeça com o DX7, esperei um pouco para entrar no mundo do sampler e o fiz através do Roland S330 que tinha uma conexão com monitor de tv p & b que tenho até hoje e que de fato facilita as operações comparado a um display de instrumento.

Sempre achei meio frustrante o uso do sampler para imitar instrumentos acústicos, exceto por necessidade econômica. Pela diferença que sentia em relação ao som do piano acústico, entendia claramente que não devia ser essa a principal utilização dessa tecnologia. 

No final dos 80 início dos 90, com todos aqueles discos dos Beastie Boys e os caras do rap inundando de comentários de samples as batidas de suas drum machines, comecei a tomar gosto em usar o processamento digital oferecido pelo Roland S330 para complementar as batidas da TR 707 que usava em conjunto com o sequencer dedicado Yamaha QX 5 e depois com o meu primeiro computador, um Atari ST.

A ideia e insistência na proposta do EletroPixinguinha XXI foi do Henrique Cazes e começou com uma sessão de gravação com seu irmão Beto onde gravaram batidas e ritmos com vários instrumentos de percussão brasileira como ganzá, prato e faca, tamborim e reco reco em diversos andamentos já  que a adaptação a um bpm diferente do que havia sido gravado originalmente, técnica conhecida como time stretching, que hoje é automático em muitos softwares, na época era impossível sem alterar o timbre do sample: mais rápido que o original o som ficava mais agudo e mais devagar, ficava mais grave.

Mandou para mim os DATs com essas gravações para que eu tentasse fazer batidas que pudéssemos usar em arranjos para obras do Pixinguinha que ele havia escrito em outras épocas.  Em alguns momentos usamos pequenos trechos de um ou outro disco foclórico com batidas de macumba ou cantos afro brasileiros como “vâmu saravá”, “hoje é dia” e outros.

Depois de montados os arranjos com essa mistura de arranjos originais adaptados para teclados, cavaquinho (em alguns momentos midi) violão, percussão ao vivo e sampleada, fizemos sessões complementares de percussão com Beto e foram gravados vocais em algumas faixas com Teresa Cristina e Pedro Miranda.

Minha preferida é a genial “Dança dos Ursos”, mas posso dizer que foi um prazer e um aprendizado bem importante ler tantos arranjos de alto nível (alguns originais do próprio Pixinguinha adaptados pelo Henrique) e orquestrá-los para o arsenal sonoro disponível na época. Era apenas o começo de uma valorização da música brasileira que a seguir viria com muita força.

 

 

Imagem da Galeria Contra capa Eletro Pixinguinha XXI
Imagem da Galeria Eletro Pixinguinha XXI