especializado em produções musicais
 

1-Passeio Noturno

 

 


Sumatra Live at Café Pequeno Rio de Janeiro


UFRJ 1998 Jardim das Delícias


Jardim das Delicias


Cangurus em Recife

 

 

 

 

Passeio Noturno (1985) 


Dizem que o primeiro a gente não esquece e concordo plenamente. 
O repertório desse disco já vinha sendo formado desde minha participação no grupo Garagem (Zé Luis Oliveira, Paulinho Soledade, Antonio Santana e Claudio Infante) que começamos em Ipanema e foi até o Festival de Jazz São Paulo Monterey (1979) organizado por Zuza Homem de Mello e que foi um pioneiro nesse tipo de evento que possibilitava o intercâmbio entre músicos brasileiros e estrangeiros. Num mundo sem You Tube, ver Chick Corea, John Mc Laughlin e outros ídolos tocando ao vivo foi inesquecível.
O disco Passeio Noturno foi gravado pelo grupo instrumental que fazia shows comigo no início dos anos 80 nos espaços de minhas gigs com Zé Ramalho e Amelinha e depois com Moraes Moreira. 
Humberto Araújo, Rodrigo Campelo, Ronaldo Diamante e Rui Motta e eu ensaiamos cuidadosamente, na casa dos dois primeiros em Santa Teresa.  Fizemos vários shows onde as músicas iam amadurecendo e os arranjos se tornando cada vez mais sofisticados incorporando inevitavelmente maneirismos do jazz rock fusion, que na época era sinônimo de virtuosismo e qualidade entre os músicos.
Chegamos ao Estúdio Transamérica na zona norte do Rio de Janeiro para gravar muito bem entrosados e a primeira faixa que registramos foi a balada Goiaba em Calda que depois foi muito executada na rádio Globo FM que era a referência para a música instrumental na época e também foi usada na novela "Carmen" da tv Manchete como tema do núcleo dos personagens "ricos" da trama.
Estávamos tão bem ensaiados que na faixa "C de Canastra" , tema que compus para a abertura do espetáculo teatral de Pedro Cardoso e Felipe Pinheiro, havia um solo de bateria do Rui entre duas sessões da música de andamentos completamente diferentes que ele refez até ficar satisfeito com sua performance que se encaixava naturalmente com o resto da música já gravada sem click (parece incrível, mas já se gravou assim) ou track de referência.
Nesse disco também está a primeira gravação de "Jardim das Delícias", que considero minha primeira composição para áudio visual inspirado no painel do pintor holandês Hieronymus Bosch do século XVI. Essa gravação marca o início de minha associação com Marcos Suzano, na época percussionista ligado ao choro e que participou como convidado tocando pandeiro, tamborins e cuíca. Ainda nessa música, lembro o fato de que havia uma programação de bateria eletrônica Oberheim DMX feita pelo Rui Motta que fazia parte do arranjo em uma das 3 seções da música e que "sumiu" da memória do aparelho no dia da gravação. (backup era só em fita K7 e só os mais abnegados eram capazes de tal proeza)
Gravamos em duo de piano e bateria, continuamos a gravação ao vivo com as entradas dos outros músicos na terceira parte da música e depois refizemos o duo várias vezes no espaço deixado pela primeira gravação, naturalmente sem click também.
Além do quinteto básico, Passeio Noturno conta com a participação de músicos importantes no cenário musical da época e que muito contribuíram para a minha história profissional em diferentes fases. Além de Suzano, a viola de Manassés no frevo Cangurus em Recife ao lado da percussão de Carlinhos Ogan, o trumpete de Bidinho em Sumatra e os saxes de Zé Luis e Dazinho em C de Canastra e de Raul Mascarenhas em Leoncio e Lena.
Como num sonho de menino, o disco foi mixado no Record Plant Studios de New York por Tom Swift, engenheiro que trabalhou com artistas como Miles Davis, Michel Petrucciani e Tom Jobim e que não por acaso me deu o prazer de gravar as duas músicas de piano solo que completam o Passeio Noturno num daqueles pianos históricos do Record Plant acostumados a mãos lendárias de todos os gêneros antes que eu pudesse registrar em fita magnética as minhas Um beijo e Obrigado Tom, dedicada a ele pelo som maravilhosamente inspirador com que me presenteou nessa gravação. 
De volta ao Brasil, as fotos da capa são de meu inesquecível amigo Ricardo Elkind e como na época só era possível fabricar um vinil a pedido de uma empresa, agradeço a William Luna por ter viabilizado junto à gravadora CID a alegria de Passeio Noturno ter chegado às prateleiras das lojas e aos toca discos das pessoas.
Não tendo sido relançado em CD, já vi no Mercado Livre um exemplar do vinil Passeio Noturno anunciado como "muito boa música instrumental" e cotado a mais de 100 dólares.  
Mesmo sabendo que existem colecionadores excêntricos de todas as espécies pelo mundo, não pude deixar escapar um sorriso de orgulho pelo canto da boca.