NUNCA OUVI NADA IGUAL - FERNANDO MOURA TRIO e convidados
por Fred Góes
O título do trabalho já desperta curiosidade. Como assim? É a pergunta que imediatamente vem à cabeça. Quando se ouve, tudo se explica. Realmente, não há nada igual. Aqui o pianista, tecladista, compositor, arranjador, produtor musical, FERNANDO MOURA reúne uma seleção de sua obra autoral que se caracteriza pela singularidade, por ter uma marca registrada e própria tão forte quanto as logomarcas da grande indústria, a diferença é que se trata de uma marca artística.
FERNANDO MOURA é um músico antenado, atento às novidades sem ser novidadeiro, tem grande intimidade com os recursos tecnológicos sem se distanciar ou deixar de usar as sonoridades e os recursos mais simples e naturais de seu instrumento. Como ele mesmo diz, sua música não tem refrão chiclete, não tem estribilho, não tem melodia cantável, não é assoviável, não é dançável, mas tem ritmo forte em compassos compostos. É isso que surpreende. Música que chama o ouvinte, que chama à apreciação. É música instrumental com m & i maiúsculos que traduz a força emocional do compositor. Ao reler seu repertório, Fernando como que o reinventa em novos arranjos, novos instrumentos, novas sonoridades, nova linguagem.
Mais do que nunca o virtuosismo deste músico/compositor se evidencia neste trabalho que reúne as composições sempre intituladas com nomes de distinta perspicácia como: Sumatra a Princesinha das Trevas, Tudo Piano, Pedra do Leme, Jardim das Delícias, Ipanema Blues, Reservas Jam. Junto ao piano e teclados de Fernando Moura estão C. A Ferrari, na bateria, André Carneiro no baixo elétrico, Augusto Mattoso, no baixo acústico, Carlos Malta, nos saxes e flauta, Toni Costa, na guitarra, João Castilho no violão, além de um naipe completo de metais em duas faixas.
Nada é mais verdadeiro: nunca ouvi nada igual.
Release por Fernando Moura
De tempos em tempos, todo artista sente vontade de apresentar uma nova versão de uma música sua: um novo arranjo, um solista diferente, um outro groove... Por mera curiosidade ou insano perfeccionismo, de Mozart a Bill Evans em algum momento todos passamos por isso.
Nunca ouvi nada igual começou em 2020 para ser um disco “como se fazia antigamente” quando os músicos ensaiavam o repertório, faziam shows para testar a reação do público e iam para o estúdio gravar já entrosados, sem dificuldades técnicas ou necessidade de edição ou truques digitais, que sacrificam a espontaneidade e a surpresa das perfromances.
“Emoção não se edita”, dizem alguns e depois do disco Festa com Orquestra de 2019 com cerca de 40 músicos, queria voltar a sentir a adrenalina de gravar simultaneamente com outros músicos novas versões de músicas de meus discos dos anos 80, 90 e 2000.
Infelizmente a pandemia inviabilizou esse tipo de processo por dois anos e para não abandonar o sonho, tive que partir para a opção “cada um no seu quadrado” trocando arquivos de audio pela Web e montando tudo solitariamente no computador.
Em eventuais baixas de perigo de contágio, consegui gravar os naipes de metais de “Jardim das Delícias” e de Cangurus em Recife, sonho que tinha desde a gravação de meu primeiro disco “Passeio Noturno” em 1985.
Já poli vacinados convoquei convoquei o trio com C.A Ferrari (bateria), André Carneiro (baixo elétrico) e convidei Carlos Malta (flautas e saxes) , Toni Costa (violão e guitarra) e Augusto Mattoso (baixo acústico) para uma live com as principais músicas do repertório do disco. Comprovei o esperado: tocando juntos, gravando audio e vídeo simultaneamente e mixando direto, os arranjos ganharam outras dimensões, o conhecido “ferido não tem ajuda”.
Dessa noite saiu o vídeo Nunca Ouvi Nada Igual dirigido e editado por Toco Jungstead (https://youtu.be/hpMZggajh2g) e para o disco resolvi incluir algumas números dessa performance trazendo a possibilidade de comparar “gota a gota” e “contar 3, 4”.
Ao final dessa sessão propus aos músicos uma improvisação apenas com o tom (re menor) combinado e o resultado em take único acrescentou outro ângulo ao trabalho pela comparação entre a música escrita e cuidadosamente arranjada e uma improvisação pura onde o combustível é a interação entre os músicos como vi a GIl Evans Orchestra fazer nos anos 80 e 90 no jazz club Sweet Basil de New York e nunca vou me esquecer.
Nunca Ouvi Nada Igual é um trabalho 100% autoral que começou como um disco de processo semelhante ao que fazíamos antes da era digital, ganhou dimensões inesperadas pelas circunstâncias e nas mãos e sensibilidades dos músicos que participaram foi muito mais longe do que havia imaginado quando comecei o projeto.
O inesperado que dá o tom da vida.
Como diria minha filha: “…parece que vai dar errado e aí de repente fica tudo bom.”
FAIXA a FAIXA
A vontade de tocarmos tudo isso ao vivo e em interação direta com o público é grande e vou trabalhar muito para que isso aconteca.
Até lá, ouça com atenção Nunca Ouvi Nada Igual e me diga se esse título teve sentido para você. O vídeo: https://youtu.be/hpMZggajh2g?si=Iflr6iN1y9jZjcaf
Fernando Moura
9 de setembro de 2023.
Ouvindo a masterização enviada por Fabio Henriques desse trabalho que representa mais de 40 anos de música original e independente criada, produzida, gravada e mixada no Brasil.
Produção e arranjos de Fernando Moura entre 2020 e 2023
Gravado nos Estúdios TudoPiano e Sala do Ritmo exceto:
Metais em Jardim das Delícias e Cangurus em Recife no Estúdio du Brou gravados por Renato Muñoz com assistência de Rodrigo Duarte.
Faixas 10, 11, 12, 13 e 14 gravadas em EcoSom Estúdios por Alexandre Reis, Paulinho Carvalho e Diego do Valle.
Mixado por Renato Muñoz no Estúdio du Brou - faixas 1 a 9; Fabio Henriques - faixa 6, Renato Alscher no Corredor 5 - faixa 14 e Fernando Moura em TudoPiano Estúdios - faixas 10, 11, 12, 13 e 15.
Masterizado por Fabio Henriques
Capa: Claudia Rozental
Produção executiva: Claudia Rozental e Fernando Moura
Agradecimento a todos os músicos e técnicos que participaram dessa viagem que teve sua rota recalculada algumas vezes, mas chegou a um destino diferente e maravilhoso assim como com as coisas inesperadas de nossas vidas.
Um abraço especial em Aloízio Jordão pelos registros incríveis e que fazem parte desta seleção, C.A Ferrari e família, Fred Góes, Maria Paganelli, Paulinho Carvalho, Renato Muñoz, Renato Rocha, Roberto Frejat e em você que está lendo essas linhas agora.
Mais de quatro décadas de música feita com amor para uma hora de sua atenção.
Muito obrigado.