especializado em produções musicais
 

34-Nunca Ouvi Nada Igual

 
 
 

 

 

 

 

 

 

NUNCA OUVI NADA IGUAL - FERNANDO MOURA TRIO e convidados

por Fred Góes

   O título do trabalho já desperta curiosidade. Como assim? É a pergunta que imediatamente vem à cabeça. Quando se ouve, tudo se explica. Realmente, não há nada igual. Aqui o pianista, tecladista, compositor, arranjador, produtor musical, FERNANDO MOURA reúne uma seleção de sua obra autoral que se caracteriza pela singularidade, por ter uma marca registrada e própria tão forte quanto as logomarcas da grande indústria, a diferença é que se trata de uma marca artística. 

   FERNANDO MOURA é um músico antenado, atento às novidades sem ser novidadeiro, tem grande intimidade com os recursos tecnológicos sem se distanciar ou deixar de usar as sonoridades e os recursos mais simples e naturais de seu instrumento. Como ele mesmo diz, sua música não tem refrão chiclete, não tem estribilho, não tem melodia cantável, não é assoviável, não é dançável, mas tem ritmo forte em compassos compostos. É isso que surpreende. Música que chama o ouvinte, que chama à apreciação. É música instrumental com m & i  maiúsculos que  traduz a força emocional do compositor. Ao reler seu repertório, Fernando como que o reinventa em novos arranjos, novos instrumentos, novas sonoridades, nova linguagem.

   Mais do que nunca o virtuosismo deste músico/compositor se evidencia neste trabalho que reúne as composições sempre intituladas com nomes de distinta perspicácia como: Sumatra a Princesinha das Trevas, Tudo Piano, Pedra do Leme, Jardim das Delícias, Ipanema Blues, Reservas Jam. Junto ao piano e teclados de Fernando Moura estão C. A Ferrari, na bateria, André Carneiro no baixo elétrico, Augusto Mattoso, no baixo acústico, Carlos Malta, nos saxes e flauta, Toni Costa, na guitarra, João Castilho no violão, além de um naipe completo de metais em duas faixas.

   Nada é mais verdadeiro: nunca ouvi nada igual.


 

 

Release por Fernando Moura

    De tempos em tempos, todo artista sente vontade de apresentar uma nova versão de uma música sua: um novo arranjo, um solista diferente, um outro groove... Por mera curiosidade ou insano perfeccionismo, de Mozart a Bill Evans em algum momento todos passamos por isso.

   Nunca ouvi nada igual começou em 2020 para ser um disco “como se fazia antigamente” quando os músicos ensaiavam o repertório, faziam shows para testar a reação do público e iam para o estúdio gravar já entrosados, sem dificuldades técnicas ou necessidade de edição ou truques digitais, que sacrificam a espontaneidade e a surpresa das perfromances.

   “Emoção não se edita”, dizem alguns e depois do disco Festa com Orquestra de 2019 com cerca de 40 músicos, queria voltar a sentir a adrenalina de gravar simultaneamente com outros músicos novas versões de músicas de meus discos dos anos 80, 90 e 2000.

   Infelizmente a pandemia inviabilizou esse tipo de processo por dois anos e para não abandonar o sonho, tive que partir para a opção “cada um no seu quadrado” trocando arquivos de audio pela Web e montando tudo solitariamente no computador.

   Em eventuais baixas de perigo de contágio, consegui gravar os naipes de metais de “Jardim das Delícias” e de Cangurus em Recife, sonho que tinha desde a gravação de meu primeiro disco “Passeio Noturno” em 1985.

   Já poli vacinados convoquei convoquei o trio com C.A Ferrari (bateria), André Carneiro (baixo elétrico) e convidei Carlos Malta (flautas e saxes) , Toni Costa (violão e guitarra) e Augusto Mattoso (baixo acústico) para uma live com as principais músicas do repertório do disco. Comprovei o esperado: tocando juntos, gravando audio e vídeo simultaneamente e mixando direto, os arranjos ganharam outras dimensões, o conhecido “ferido não tem ajuda”.

   Dessa noite saiu o vídeo Nunca Ouvi Nada Igual dirigido e editado por Toco Jungstead (https://youtu.be/hpMZggajh2g) e para o disco resolvi incluir algumas números dessa performance trazendo a possibilidade de comparar “gota a gota” e “contar 3, 4”.

   Ao final dessa sessão propus aos músicos uma improvisação apenas com o tom (re menor) combinado e o resultado em take único acrescentou outro ângulo ao trabalho pela comparação entre a música escrita e cuidadosamente arranjada e uma improvisação pura onde o combustível é a interação entre os músicos como vi a GIl Evans Orchestra fazer nos anos 80 e 90 no jazz club Sweet Basil de New York e nunca vou me esquecer.

   Nunca Ouvi Nada Igual é um trabalho 100% autoral que começou como um disco de processo semelhante ao que fazíamos antes da era digital, ganhou dimensões inesperadas pelas circunstâncias e nas mãos e sensibilidades dos músicos que participaram foi muito mais longe do que havia imaginado quando comecei o projeto. 

   O inesperado que dá o tom da vida.

   Como diria minha filha: “…parece que vai dar errado e aí de repente fica tudo bom.”

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nunca Ouvi Nada Igual – Fernando Moura Trio e Convidados

FAIXA a FAIXA

  1. Jardim das Delícias – o Rhodes que poderia ter gravado Bitches Brew ou tantos outros do jazz rock da década de 70. Timbre e harmonia se completam à perfeição. As inversões dos acordes são únicas desse instrumento. A distorção que interessa. O pan com a bateria, situou e acendeu o alerta no ouvinte que percebe essas coisas. Metais de alto nível, sem dobras ou edições mirabolantes. Como diziam os grandes: “vamos gravar”. Valeu a pena esperar mais de 30 anos para gravar essa metaleira.
  2. TudoPiano – bateria de C.A Ferrari imprime uma leitura rítmica bem diferente da gravação original de 2008. Sem overdubs, soa como muito mais gente tocando do que um trio. Um engano meu de contagem deslocou a base e trouxe surpresas.
  3. Sumatra – o Hammond C3 realçando o que estava presente desde o início na composição. Tentei antes, mas não tinha o instrumento à minha disposição. Em 1985 usei um DX7. Sem esnobismo: é diferente pelo que inspira. Improviso de Wurlitzer com reverber setentista, boa sacada da mix de Renato Muñoz citando Soft Machine, um clássico menos lembrado do que deveria ser. Samba que lembra discos de sebo dos anos 60.
  4. Pedra do Leme – originalmente composta para o cinema, a versão do Trio traz o progressivo de um tempo em que os baixos podiam ser melódicos e não tentavam competir com sopros e guitarras em rapidez e quantidade de notas por segundo. 
  5. Criação de Bicudos – bateria de C.A Ferrari vai de Tony Williams a Wilson das Neves cada um em seu momento. Um tapete mágico para qualquer solista e parece que nascemos tocando junto, Solo de baixo exato de André Carneiro.
  6. King’s Cross – violão bate um papo rápido na intro com Rhodes meio boate, um som que gravo em meu estúdio sem truque algum. Música composta em Londres na década de 90 quando passei 2 anos estudando lá. Os trens me impressionavam e falava com o Brasil só aos domingos. Depois de uma gravação com metais e percussão em 1999, reaparece aqui numa versão sambete com solos e grooves imbatíveis do violão de João Castilho.
  7. Ipanema Blues – uma das minhas composições preferidas. Desde a gravação original de 1992 tendo Paulo Moura como solista, adiava a tentativa de um novo arranjo. Trocar o sax pela guitarra foi o ponto de partida para essa nova versão. Toni Costa trouxe feeling para o solo e minúcia às melodias que escrevi para o violão. A pandemia impediu que tocássemos simultaneramente e exigiu do talento de Malta que gravasse sozinho o naipe de saxes que escrevi para 4 vozes. Um toque de Hammond no solo de guitarra e na reexposição da melodia final foram mixados por Renato Muñoz com visão de rock pop que contribuiu decisivamente para diferenciar do arranjo original.
  8. Piece 2 – a música que aponta outros caminhos dentro do meu universo musical já consolidado. Piano acústico se soma à eletrônica que interfere e arrisca. O baixo escrito quase nota por nota acolhe a guitarra de Felipe Fernandes. Instrumentista de outra geração e praia musical, ele mostra qualidade e criatividade sem conflitos. O som de guitarra que eu escutava para essa faixa com as notas adequadas nos seus lugares.
  9. Cangurus em Recife - outra que esperei desde meu primeiro disco Passeio Noturno (1985) para ouvir com um naipe de metais. Tive que cancelar 2 vezes a gravação dos metais no estúdio que o querido Frejat me disponibilizava conforme o andamento da pandemia. Quando o contágio baixava, não conseguia os músicos para formarem o naipe e quando a escalação estava certa, vinham as estatísticas pessimistas…  Isso passou e ficamos com essa gravação vitoriosa. Solo de sax alto de meu “primeiro amigo” David Ganc e não resisti à tentação de gravar um solo de Mini Moog que me lembrasse a gravação original.
  10. Assim na Tela como no Céu (versão ao vivo) – performance tipo “ferido não tem ajuda” desse tema que compus para um longa metragem nos anos 90.  Essa gravação fez parte de um especial para tv em que errei o dia da afinação do piano e o tempo ficou mais apertado do que nunca para gravar o repertório escolhido.  Um certo desespero trouxe esse som meio cabaré, meio desafinado que tirei do piano. Sax alto de Malta entregando a influencia de uma gravação de Jorge Dalto e Paquito Rivera que me inspirou. Augusto Mattoso preciso e presente com seu baixo acústico gigante.
  11. Sumatra (versão ao vivo) – gravação com o Trio tocando junto, tem um punch que só o legítimo sufoco é capaz de trazer. Pequenas imprecisões aqui e ali, mas a força da história de 3 músicos contra o relógio lembra o último set de algum jazz club enfumaçado de fim de mundo com meia dúzia de espectadores hipnotizados na platéia.
  12. Preparado para Tudo/Mexidão (versão ao vivo) –  opção à gravação original dessa música com naipe de sopros e percussão para o disco em duo com Ary Dias “Pros Meninos” de 2013. Aqui é apresentada por um quarteto, traz um solo brilhante de sax soprano de Malta e uma suingueira de categoria com a bateria de C.A Ferrari e o baixo acústico de Augusto Mattoso.
  13. Ipanema Blues (versão ao vivo) – humanas indecisões, ruídos de diversas espécies e timbres, o piano dando mostras que já estava cansado de meus maus tratos e um solo de guitarra de Toni Costa, que só acontece quando a bola rola entre craques.
  14. Reservas (ao vivo)- nos anos 80 e 90, assisti algumas vezes a orquestra de Gil Evans no Sweet Basil, inferninho no Village em New York. Alem da altíssima qualidade dos instrumentistas, o que me impressionava era a alternancia entre trechos rigorosamente escritos e outros totalmente improvisados. A improvisação ia muito além de escolher escalas para improvisar sobre sequencias de acordes que se repetissem ciclicamente. A música ia longe e depois magicamente voltava. Evans, já velhinho, ficava entre um piano acústico que pouco se ouvia naquela massa sonora e um Rhodes que só nos momentos de indecisão do ensemble encontrava espaço para sabiamente se manifestar. Reservas foi o número final do nosso especial ao vivo. Depois de conseguirmos gravar 7 arranjos complexos em pouco mais de 2 horas, combinamos essa “levação de som”, para celebrar o prazer de tocar, motivação de nossa escolha pela música criativa. Hermeto, Smetak, Widmer e Guilherme Vaz estiveram por ali durante os pouco mais de 10 minutos desse take único ao qual acrescentei alguns detalhes de teclados mixados com sabedoria e proporcão exata por Renato Alscher. 
  15. Carneirinho, Carneirão (bonus track) –  um presente de aniversário para André Carneiro essa demo inspirou toda a ideia do trabalho que tomou outro rumo, mas começou aqui.

 

   A vontade de tocarmos tudo isso ao vivo e em interação direta com o público é grande e vou trabalhar muito para que isso aconteca. 

   Até lá, ouça com atenção Nunca Ouvi Nada Igual e me diga se esse título teve sentido para você. O vídeo: https://youtu.be/hpMZggajh2g?si=Iflr6iN1y9jZjcaf

              

                 Fernando Moura

                                                      9 de setembro de 2023.

   Ouvindo a masterização enviada por Fabio Henriques desse trabalho que representa mais de 40 anos de música original e independente criada, produzida, gravada e mixada no Brasil.

 

 

Ficha técnica
01 - Jardim das Delícias 
Fernando Moura – piano elétrico Fender Rhodes e Clavinete / André Carneiro – baixo elétrico /  CA Ferrari - bateria / Jessé Sadoc - trumpete / Diogo Gomes- trumpete / David Ganc - sax alto / Alexandre Caldi - sax tenor / Edu Neves - sax tenor / Everson Moraes - trombone  / Antonio Neves – trombone
 
02 - TudoPiano
Fernando Moura - piano/ André Carneiro – baixo elétrico/ CA Ferrari – bateria
 
03 – Sumatra
Fernando Moura – Orgão Hammond C3, piano elétrico Wurlitzer, Clavinete / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria 
 
04 - Pedra do Leme
Fernando Moura - piano  / André Carneiro - baixo elétrico / CA Ferrari - bateria 
 
05 - Criação de Bicudos
Fernando Moura - piano / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria 
 
06 - King´s Cross
Fernando Moura – piano elétrico Fender Rhodes e clavinete / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria / João Castilho – violão
 
07 - Ipanema Blues 
Fernando Moura – piano e órgão Hammond C3 / André Carneiro – baixo elétrico /
CA Ferrari - bateria / Toni Costa - guitarra e violões / Carlos Malta – saxofones alto e tenor
 
08 - Piece 2 
Fernando Moura – piano, Mini Moog e teclados / André Carneiro – baixo elétrico / 
CA Ferrari - bateria / Felipe Fernandes - guitarra
 
09 - Cangurus em Recife 
Fernando Moura – piano e Mini Moog / André Carneiro - baixo / CA Ferrari - bateria / Vander Nascimento - trumpete / Gilson Santos - trumpete / David Ganc – saxofone alto e flautim / Daniel Garcia – saxofone tenor / Rodrigo Reveles - saxofone barítono / Bidu - trombone / Everson Moraes - trombone
 
10 - Assim na tela como no céu Live
Fernando Moura- piano / Carlos Malta - sax alto / Augusto Matoso – baixo acústico
 
11 - Sumatra Live 
Fernando Moura – piano e iPad / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria 
 
12 - Tudo Preparado / Mexidão Live
Fernando Moura - piano / Augusto Matoso – baixo acústico / CA Ferrari - bateria /
Carlos Malta - flauta e sax soprano
 
13 - Ipanema Blues Live
Fernando Moura – piano e iPad / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria / Toni Costa - guitarra / Carlos Malta - sax alto
 
14 - Reservas Live
Fernando Moura – piano, iPad, órgão Hammond C3, Prophet 5, clavinete e piano elétrico Fender Rhodes / André Carneiro - baixo elétrico / CA Ferrari - bateria / Toni Costa - guitarra / Carlos Malta - sax tenor e soprano, flauta e flautim / Augusto Matoso - baixo acústico
 
15 - Carneirinho Carneirão
Fernando Moura – piano, Oberheim OB-Xa e Moog One / André Carneiro – baixo elétrico / CA Ferrari - bateria 
 
 
 
 
 
 
 
 

Produção e arranjos de Fernando Moura entre 2020 e 2023

Gravado nos Estúdios TudoPiano e Sala do Ritmo exceto:

Metais em Jardim das Delícias e Cangurus em Recife no Estúdio du Brou gravados por Renato Muñoz com assistência de Rodrigo Duarte.

Faixas 10, 11, 12, 13 e 14 gravadas em EcoSom Estúdios por Alexandre Reis, Paulinho Carvalho e Diego do Valle.

Mixado por Renato Muñoz no Estúdio du Brou - faixas 1 a 9; Fabio Henriques - faixa 6, Renato Alscher no Corredor 5 - faixa 14 e Fernando Moura em TudoPiano Estúdios - faixas 10, 11, 12, 13 e 15.

Masterizado por Fabio Henriques

Capa: Claudia Rozental

Produção executiva: Claudia Rozental e Fernando Moura

Agradecimento a todos os músicos e técnicos que participaram dessa viagem que teve sua rota recalculada algumas vezes, mas chegou a um destino diferente e maravilhoso assim como com as coisas inesperadas de nossas vidas.

Um abraço especial em Aloízio Jordão pelos registros incríveis e que fazem parte desta seleção, C.A Ferrari e família, Fred Góes, Maria Paganelli, Paulinho Carvalho, Renato Muñoz, Renato Rocha, Roberto Frejat e em você que está lendo essas linhas agora.

Mais de quatro décadas de música feita com amor para uma hora de sua atenção.

Muito obrigado.