Para muitos da minha geração que começaram na música clássica, o caminho para a profissionalização passou pelo rock progressivo.
No final do anos 70, música brasileira não era fundamental (como é hoje) para quem estava chegando ao mundo profissional, principalmente entre os pianistas.
Nossas fontes de inspiração eram os tecladistas de grupos como Yes (Rick Wakeman), Deep Purple (Jon Lord), Genesis (Tony Banks) e no meu Olimpo Keith Emerson,reinava soberano como um Zeus atirador de facas em órgâos Hammond e solista de Moogs que me mostravam como falar de igual para igual com os guitarristas na hora dos solos.
A estética do progressivo com suas músicas em seções e quase sempre fora do modo “canção” como os Beatles e Rolling Stones, o virtuosismo dos instrumentistas, as harmonias trabalhadas e os compassos compostos me deram coragem para sair do relativo conforto da música erudita e concretizar a vontade de compor minhas próprias músicas.
O primeiro disco “gravado por uma pessoa só” que me lembro foi “Tubular Bells” de Mike Oldfield que fez grande sucesso na época, assim como o Switched On Bach com Walter (hoje Wendy) Carlos que também usou múltiplas pistas e edições para trazer resultado orquestral executado por uma pessoa só.
Em casa, meu pai ouvia MPB e jazz, mas só quando descobri por acaso Kind of Blue na biblioteca do consulado americano em Copacabana, é que fui conhecendo aos poucos os grandes pianistas como Bill Evans, Herbie Hancock, Chick Corea e o fundamental McCoy Tiner pelas mãos do pianista Guilherme Vaz, meu professor de composição e uma das grandes convivencias que a vida me trouxe.
Meu ingresso na vida profissional quase se deu pelo rock brasileiro do fim dos anos 70 com audição para integrar os Mutantes, mas com 16 anos, achei que seria uma boa ideia tocar 20 minutos de meu repertório clássico para eles. Ficaram tão surpresos que foram incapazes de uma apreciação no momento do teste.
Pouco tempo depois reencontrei Rui Motta (baterista do conjunto e que estava na audição) em meu primeiro trabalho em MPB com o cearense Ednardo e tive que me virar para aprender canções por cifras e decorar frases musicais (na época eram as “convenções” ou “cachorros”) em tutti que não estavam escritas na pauta. Passei por adaptar toda a minha técnica de piano aos teclados de então, notadamente o piano Fender Rhodes do qual nunca gostei do toque, o Arp Strings, que sempre duvidei pela emulação kitsch de uma orquestra de cordas e um pouco depois o Mini Moog, que “só fazia uma nota de cada vez”.
Décadas se passaram e fui entendendo que apesar de sintetizadores e teclados eletro mecânicos terem teclas como um piano, a estética de cada um deles é diferente. Quase como vinhos, cada um tem sua ocasião, sua especialidade e suas limitações.
Além disso, tecladistas têm que entender que não precisam usar todos os instrumentos que estão em seus estúdios em cada uma das faixas que produzem. Imagine cozinhar usando todos os têmperos ao mesmo tempo em cada prato...
Planeta Diário usa um “elenco” seleto de instrumentos onde o piano acústico é protagonista na maior parte do tempo, secundado pelos eletromecânicos Fender Rhodes, Hammond e Clavinete acompanhados por intervenções graves do Mini Moog, improvisos de Moog Matrarch e ambientes de instrumentos virtuais.
Os outros “amiguinhos” que moram no mesmo estúdio, dessa vez só assistiram...
Até os novos projetos quando serão acionados pelas ondas da imainação.
Planeta Diário é a música de cada dia, da imaginação que se renova e pratica todos os dias a busca pelo som que alimenta nossa alma.